21 octubre, 2009

Diálogo de ruptura

Para ler a duas vozes,
impossivelmente por suposto.

- Não é tanto que já não saibamos
- Mas por acaso procuramos por isso desde o dia em que
- Talvez não, e no entanto cada manhã que
- Puro engano, chega o momento em que a gente se vê como
- Quem sabe, eu ainda
- Não basta querer, se além do mais não há prova de
- Tu vê, de nada vale essa segurança que
- Certo, agora cada um exige uma evidência frente a
- Como se beijar-se fosse assim um termo, como se olhar-se fosse
- Debaixo da roupa não espera mais essa pele que
- Não é o pior, penso às vezes; tem outra coisa, as palavras quando
- Ou o silêncio, que então valia como
- Só sabíamos abrir a janela
- E essa maneira de virar o travesseiro procurando
- Como uma linguagem de perfumes úmidos que
- Tu gritava e gritava enquanto eu
- Caíamos numa mesma cega avalanche até
- Eu esperava escutar isso que sempre
- E brincar de dormir entre nós de lençóis e às vezes
- Se haveremos insultado entre carícias o despertador que
- Mas era doce levantar-se e competir pela
- E o primeiro, encharcado, dono da toalha seca
- O café e as torradas, a lista de compras, e isso
- Tudo continua a mesma coisa, se diria que
- Exatamente igual, só que em vez de
- Como querer contar um sonho que depois de
- Passar o lápis sobre uma silhueta, repetir de memória algo tão
- Sabendo ao mesmo tempo como
- Ah sim, mas esperando quase um encontro com
- Um pouco mais de marmelada e de
- Obrigado, não tenho

Julio Cortázar
tradução: Felipe Martini


3 Comentários:

Blogger Gabriel Poeys disse...

Ler cortazar regala muito mais que sorrisos... belo texto, na falta de um adjetivo melhor.

24/10/09 20:38  
Blogger Lu Noboa disse...

primera vez q me siento ofendida con algo de este blog..
cortázar es para estar en español

2/11/09 22:11  
Blogger Felipe Martini disse...

justo Cortázar, que se dedicó toda la vida a traducir textos ajenos?

4/11/09 01:51  

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