20 octubre, 2008

Festa no Povo¹

(...)Tive um domingo aborrecido, pensando no que o Pelado estaria fazendo enquanto eu tinha de agüentar as visitas com seus "como estás crescidinho" e "já estás um homenzinho", e obedecer docilmente quando as senhoras diziam "vem cá me dar um beijo" e ofereciam as bochechas gordas.

*

Na manhã seguinte, muito cedo, Pelado apareceu. Trazia um pastel e um montão de histórias sobre seus feitos no dia anterior.
Com ar de importância e um sotaque mais abrasileirado do que nunca, contou o seu grande sucesso na festa:
- Um retratista me fizo² dois retratos!
E tirou do bolso da camisa.
As fotos eram iguais, cópias da mesma pose. Nelas, sem muita nitidez, via-se o Pelado em pé, segurando as rédeas da égua e olhando para a máquina com olhos muito sérios e redondos. Tinha o chapéu na nuca e estava em pé, muito firme, com as pernas abertas e os braços caídos, curvados como dois parênteses.
Me deu uma delas e me disse:
- Toma. Esta é pra ti.
E acrescentou, solene:
- Não pus a dedicatória porque não sei escrever, mas faz de conta que diz aí que o retrato é pro meu melhor amigo.


Julián Murguía³, Cuentos del país de los gauchos.
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Notas:
1 - Na assepção de "vilarejo", "povoado". Palavra usada com este sentido na campanha rio-grandense, assim como na língua castelhana, "pueblo".
2 - Em castelhano: hizo. Em português: fez.
3 - Escritor fronteiriço uruguaio, do Departamento de Cerro Largo, limítrofe ao Rio Grande do Sul.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

No necesitas traducir casi nada, me estoy volviendo gaúcha de tanto leer cuento gauchescos en portugués.
saludos materos.

24/10/08 03:44  

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