Passos
Nasce trepando as árvores e o céu uma lua parcial que toca a lente viva do meu olho. Noite jovem de março que avançou sobre um dia de preguiça. Me dedico hoje à sagrada festa dos copos e das vozes que se cruzam, cortadas por risos e saudações. Cada canção será dança; cada dança, abraço. Pés que pisam folhas, pássaros que dormem, árvores que balançam acariciadas pelo vento. Repito certos rituais quase velhos, recordo outras noites e outras noitadas, caminho pelo chão de pedra da minha cidade, território soberano dos meus passos. Nem a ruína de mil séculos ou as águas elevadas do Atlântico vão apagar a névoa mágica dos sentidos, que me envolve quando caminho sob a lua úmida de Porto Alegre.