05 diciembre, 2006

Desde el Lío de la Plata

Já que o assunto literatura erótica foi introduzido(desculpem o trocadilho infame...) num desses maravilhosos blogues relacionados a este, deixo-lhes um belo texto do gênio argentino Júlio Cortazár. A tradução é minha.

Toco tua boca.

"Toco tua boca, com um dedo toco a borda de tua boca, vou a desenhando apenas, como se saísse de minha mão, como se pela primeira vez se entreabrisse e me basta fechar os olhos para desfaze-lo todo e recomeçar, faço nascer cada vez a boca que desejo, a boca que minha mão escolhe e te desenha na cara, uma boca escolhida entre todas, com soberana liberdade escolhida por mim, para desenha-la com minha mão em tua cara e que por um azar que não busco compreender coincide exatamente com tua boca que sorri por debaixo da que minha mão desenha.
Me olhas, de perto me olhas, cada vez mais de perto e então brincando com o ciclope, nos olhamos, cada vez mais de perto e os olhos se agrandam, se aproximam entre si, se superpõe e os ciclopes se olham respirando confundidos, as bocas se encontram e lutam mornamente, mordendo-se com os lábios, apoiando apenas a língua nos dentes, brincando em seus recintos onde um ar vai e vem com um perfume velho e um silencio. Então minhas mãos buscam fundir-se no teu cabelo, acariciar lentamente a profundidade de teu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância escura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos em um breve e terrível absorver simultâneo do alento, essa instantânea morte é bela, e há uma só saliva, e um só sabor de fruta madura e eu te sinto tremer contra mim como uma lua na água."

12 Comentários:

Blogger Jáder disse...

Que bonito isso, li pouco - nada - de córtazar, mas alguém que estou lendo muito, Caio Fernando Abreu, era grande leitor e admirador do Argentino em questão.

Bem... mas é belo... minha única duvida é se alguem levemente determinista como Pepe terá gostado disso que publicou.



Que tal isso do P. Juan Gutiérrez, do livro "Trilogia suja de havana":

"...Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é um intercâmbio de líquidos, de flúidos, saliva, respiração e cheiros fortes, urina, sémen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, reduz-se a uma paródia estéril do que poderia ser. NADA..."


abraços

5/12/06 22:44  
Blogger Jáder disse...

óóóó´... calma tchê... as paixões sãocomoas canções e as palavras, não tem hora marcada -isso é angela RôRô - e não tem nada a ver com papai noel...

ahh! tchê... ando tão apanxobinado...

comentei noteu bog... tchê, tu não me pareces, agora tão determinista... parecia, tempos atrás, desvalorizadas por ti - as coisas sobre amor - dizia tu que tudo era biológico e eu até concordo - pq esse puto argentino escreveu algo tão lindo e tu gostou...

peésse: sem conjugação.

5/12/06 22:51  
Blogger Felipe Martini disse...

Posé, já dei uma boa folhada nesse livro do cubano Gutiérrez, pero não me agradou muito sua desilusão com as cosas...

Até porque merda(no séquisso) só acha quem procura. Rá!
Dizem, ao menos, porque deste assunto só li nos livros, né?

Eu também li pouquíssimo do Cortazár, até porque a vez em que consegui um de seus livros ele estava traduzido por uma editora do Centro do país, e eu achei a tradução meio idiota. O que acontece muitas vezes em que essa basilerada vem meter os zóio nessas terras gauchas. Ou tou viajando mesmo...

E não sou determinista, só não sou cola-man... rarara (brincadeirinha, neno).

Ah, o texto em questã é bonitíssimo. Só me falta a boca alheia.

5/12/06 23:04  
Anonymous Anónimo disse...

muy bien Pepe!!!!!!se animó a publicarlo nomás...usted me pidió un texto para darle celos a Clarita y me parece que va a dar resultado!!!
no sea determinista y tenga fé .Ella vuelve como una flecha guaraní.También le puedo enviar , Bécquer para nenes y algunos poemitas del Billiken que no ofenden el determinismo de nadie.
Au revoir

5/12/06 23:44  
Anonymous Anónimo disse...

Êta lelê... Dá até pra visualizar a cena. Bonito o texto... Tá, como estudante de comunicação, não deixei de reparar na concordância [que tá brava de ler, Pepito...], mas a beleza do texto em si até ofusca esse detalhe.

Esse autor não tem obras publicas em português? Se tiver, me passa os nomes dos livros... Afinal, as férias tão chegando e eu quero boas coisas pra ler [ah, vícios fabicanos...].

Tá, vou parar de escrever que já tá um pergaminho.

Besitos!

6/12/06 01:33  
Anonymous Anónimo disse...

Ah, já que tão falando da coisa, um ps adequado: agora eu entendi porque tu não sabe o que é KY... O teu amigo só te introduziu até a vaselina!!!

Tá, eu não tenho vocação pra comediante e essa foi triste.

Whatever.

Besos!

6/12/06 01:37  
Blogger Felipe Martini disse...

No, Clarissa, no te pedí ningun texto para dar celo a nadie...por que decis eso?

NATY, erros de concordância??? DONDE?
Até porque eu apenas traduzi o texto...se há erros estes são do Cortazár.

E há sim muita coisa deles em português.


besitos!

6/12/06 01:59  
Anonymous Anónimo disse...

(Hola Clarii!)

O texto não importa.

A cena, Pepe, a cena se não é a própria, é idêntica a uma cena que vivi.

Tinha dois ponchos, um chapéu, um sofá, um apê sem quase nada. Numa cidade de gente adorada. Vinis tocando.
Um casal bebendo vinho, afogando as mágoas de coisas que foram e viriam.

Risadas, sorrisos, sotaques já entrelaçados pelas bocas.

Contornar os lábios de um menino.

Me lembro bem.

Foi assim começou a noite que terminou com uma menina dizendo "Cadê meu brinco?"

6/12/06 04:01  
Blogger Jáder disse...

hj, em nosso momento almódovar de levarei um exemplar de KY...

6/12/06 11:58  
Blogger Felipe Martini disse...

Lá em Dom Pedrito a gente usava graxa de porco...

6/12/06 13:34  
Anonymous Anónimo disse...

Belíssimo texto cada cena mostra-se tão encantadora que podemos vizualizar todos os atos !!!

7/12/06 15:15  
Blogger luiza só disse...

adoro

18/12/06 22:16  

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