26 mayo, 2007

Desfecho

Cruzou a rua como se do outro lado lhe esperasse o amor de sua vida. Ou a solução dos mistérios da Existência. Ou uma cama quente numa manhã de inverno.
Minto: cruzou a rua como se cruzam ruas a todo instante, se olha pros dois lados, põe-se um pé sobre o pavimento e depois outro. Como faz todo mundo.
Minto: os pernetas não. Mas estes também atravessam vias eventualmente. E atravessou, no más. Chegou ao outro lado e entrou na Lancheria. Punks, mods, emos, bichas, garçons. Pediu um trago. Tomou o trago. Olhou pros lados, acendeu um cigarro (não sem antes impor-se uma fisionomia de ator de cinema) e pôs os olhos sobre a última das mesas da fileira em que estava. Aquela fila que dá no banheiro. Não se sabe se isso ocorreu devido à sua vontade de mijar ou graças a algum desmando do Criador. O fato é que olhou e viu uma dessas de AllStar que lhe pareceu bem interessante.
Minto: a mocinha só lhe pareceu gostosa. E realmente o era, convenhamos. Conste aqui também que a guria já tava mais pra lá do que pra cá. Bueno, acontece que após certas trocas de olhares – olhares já meio embaçados pelo álcool e por outras drogas menos lícitas – a nossa mocinha abriu alguns risinhos pro cavalheiro que não lhe tirava os olhos e disse pra si mesma que vengan los toros que pior não fica e vamo ver se alguma coisa acontece nessa noite de merda. Mas nosso jovem filho da noite não tomou coragem de se aproximar e sua bunda quedou-se imóvel sobre o plástico da cadeira, assim como seus cotovelos sobre a mesa. Quando viu que já estava mamado o suficiente pra não conseguir encher outro copo de cerveja sem fazer um estardalhaço de garrafa-batendo-na-mesa e bebida-escorrendo-pela-toalha-e-molhando-calça&cueca decidiu levantar-se, pagar a conta e ir pra casa dormir dando fim àquela noite de bosta. E foi o que ele fez.
Minto: quando atravessava de volta a rua em direção ao seu lardocelar surge um ônibus – um desses velhos que têm como formoso destino Viamão – que lhe presenteia um ponto final sem nada de reticências. Porque personagens medíocres às vezes merecem a morte.

5 Comentários:

Blogger Cuevas disse...

Caramba. Excelente, Pepe.

Excelente!

Vou ler de novo, péra...

26/5/07 20:59  
Anonymous Anónimo disse...

Escelente, Felipe! Usted escribe mejor que yo. Congratulaciones.

27/5/07 01:12  
Anonymous Anónimo disse...

Morreu.
Exatamente como queria.
Como tinha planejado.
o fim, não a existência.
Não era capaz disso.
De existir.
Muito trabalho.
Planejou tudo. milimetricamente,
como só ele podia desejar.
concretizou.

27/5/07 06:12  
Anonymous Anónimo disse...

tri

27/5/07 06:52  
Anonymous Anónimo disse...

perfeito, Pepe. ótimo texto, de verdade, gostei.
minto: amei.
minto: gamei.
minto: quero dar pra ti.
minto: não quero não.
sentencio: MARAVILHA DE TEXTO.

a altura do teu ego.

28/5/07 18:39  

Publicar un comentario

<< Home

Visitas: