24 octubre, 2007

biografia pequena

conheço os dias do teu ciclo menstrual
as tuas pintas e sinais mais ocultos
o formato das tuas unhas
tua falha no cabelo
e teu amor pelas
Chegada a hora fatídica do exame psicotécnico, lá estava eu frente a uma folha de papel em branco e com a dura tarefa de desenhar uma "pessoa". Esse foi o termo utilizado pela psicóloga: pessoa. Comecei traçando uma linha na horizontal, que deveria parecer o chão da criatura que estava por nascer. Num desenho habitual eu provavelmente não o faria, mas como eu não queria parecer louco - e sabido da obceção que têm esses profissionais por alguma coisa que defina a existência de um solo em nossos inocentes desenhinhos - risquei a folha de ponta a ponta e prossegui em minha missão. Aos poucos o grafite foi traçando as pernas do ser humano fictício, assim como todo o resto de seu franzino corpo. De repente lá estava a criatura, com forma e tudo! Aí começou o problema. Senti que algo faltava, apesar da "pessoa" já ter recebido seus membros, olhos, orelhas, boca, cabelos e até suas roupas. Sim, faltava alguma coisa! Neste momento um feixe de inspiração me veio à cabeça e consigo, enfim, concluir meu trabalho: na mão direita de minha criação desenhei uma faca suja de sangue, e na mão esquerda uma garrafa de uísque.
Moral da história: fui reprovado no exame, mas não perdi a piada.

23 octubre, 2007

Mi casa está en la frontera

Candombe mulato

Negro con rasgos de blanco
Blanco con rasgos de negro
Nunca quieras ocultar
Lo que te viene de adentro

En el fondo de la sangre
Llevas dos sangres latiendo
Nunca quieras apagar
El tambor de los abuelos

Chacha mulato (te va de acá)
Chacha mulato (te va de ahí)
Chacha mulato, venga esa mano
Que hace chachas en el tamboril

Mezcla de negro y de blanco
Mezcla de blanco y de negro
Vamos, vamos de una vez
Al tambor de los morenos

Baila, baila pero piensa
Que la vida no es un juego
Ni un darse a la sambasón
Con dinero o sin dinero

Chacha mulato...

La vida no es mulato
Cosa de sangre o de pelo
El hombre piensa mejor
Con el estómago lleno

Baila, baila pero piensa
Que debes poner el seso
Para que piensen mejor
Los hombres del mundo entero

Chacha mulato...

22 octubre, 2007

Querido y remoto muchacho

Me pedís consejos, pero no te los puedo dar en una simple carta, ni siquiera con las ideas de mis ensayos, que no corresponden tanto a lo que verdaderamente soy sino a lo que querría ser, si no estuviera encarnado en esta carroña podrida o a punto de podrirse que es mi cuerpo. No te puedo ayudar con esas solas ideas, bamboleantes en el tumulto de mis ficciones como esas boyas ancladas en la costa sacudidas por la furia de la tempestad. Más bien podría ayudarte (y quizá lo he hecho) con esa mezcla de ideas con fantasmas vociferantes o silenciosos que salieron de mi interior en las novelas, que se odian o se aman, se apoyan o se destruyen, apoyándome y destruyéndome a mí mismo. No rehuyo darte la mano que de tan lejos me pedís. Pero lo que puedo decirte en una carta vale muy poco, a veces menos que lo que podría animarte con una mirada, con un café que tomáramos juntos, con alguna caminata en este laberinto de Buenos Aires. Te desanimás porque no sé quién te dijo no sé qué. Pero ese amigo o conocido (qué palabra más falaz!) está demasiado cerca para juzgarte, se siente inclinado a pensar que porque comés como él es tu igual; o ya que te niega, de alguna manera es superior a vos. Es una tentación comprensible: si uno come con un hombre que escaló el Himalaya, observando con suficiencia como toma el cuchillo, uno incurre en la tentación de considerarse su igual o su superior olvidando ( tratando de olvidar) que lo que está en juego para ese juicio es el Himalaya, no la comida. La verdadera justicia sólo la recibirás de seres excepcionales, dotados de modestia y sensibilidad, de lucidez y generosa comprensión. Cuando aquel resentido de Sainte-Beuve afirmó que jamás ese payaso de Sthendal podría hacer una obra maestra, Balzac dijo lo contrario. Pero es natural, Balzac había escrito la Comedia Humana y ese caballero una novelita cuyo nombre no recuerdo. De Brahms se rieron tipos semejantes a Sainte-Beuve: cómo ese gordo iba a hacer algo importante? Un tal Hugo Wolf sentenció en el estreno de la cuarta sinfonía: “Nunca antes en una obra lo trivial, lo vacuo y engañoso estuvieron más presentes. El arte de componer sin ideas ni inspiración ha encontrado en Brahms su digno representante”. Mientras que Schumann, el maravilloso Schumann, el desdichadísimo Schumann, afirmó que había surgido el músico del siglo. Es que para admirar se necesita grandeza, aunque parezca paradójico. Y por eso tan pocas veces el creador es reconocido por sus contemporáneos: lo hace casi siempre la posteridad, o al menos esa especie de posteridad contemporánea que es el extranjero.

Don Ernesto Sábato.

18 octubre, 2007

Discutindo o amor.

Agendei uma visita ao psicólogo mais próximo pra ver se eu resolvia, de uma vez por todas, esse meu estranho comportamento em relação às mulheres. É verdade que não era a primeira vez que eu me aproximava de um profissional da área de Freud, mas na primeira ocasião a terapeuta tinha ido parar na minha cama logo no segundo encontro e acabamos não continuando o tratamento.
Consulta marcada, dirijo-me ao consultório, localizado no bairro mais chica-chica-ulelê da cidade. Um segundo - ou dois, não contei direito - antes de entrar na sala do Dr. Penteado (que por ironia do destino é careca) este que vos escreve viu o filme de sua existência afetiva&sexual passar em frente a suas retinas. Lembrei-me de pronto da Claudinha, saudosa, 1,70, cabelos loiros, perfume de flor de jacarandá, voz mansa e que me deu um pé-na-bunda depois depois daquele fim-de-semana na Serra; também recordei-me de Juliana (como poderia esquecer!), grande Jujuba, sempre disposta a tudo e com um formoso sorriso no rosto, além de ter uma bunda de proporções homéricas - que mesmo com aquele tamanho todo não perdia o charme - mas que por algum desmando de seu coraçãozito sapeca me deu um fora depois da viagem pra Tupanciretã que fizemos juntos no carnaval do 94, ah, doída saudade!; mas doeu mesmo quando lembrei-me de Bianca, aquela de olhos verdes e seios de magnólia, pianista e de forte inclinação ao relativismo pós-moderno. Essa senhora, como não poderia ser diferente, acabou pelo telefone aquele que foi o relacionamento mais duradouro de minha vida (acho que durou uns 15, 16 dias), justificando-se aos prantos que gostava muito de mim, demais!, e que não podia se permitir viver tamanho amor sem ter a certeza do correspondimento de seu querer... bonito isso! Só não achei muito legal que ela tenha desligado o telefone na minha cara bem na hora que eu ia explicar-lhe a profundidade e a pureza de meu amor. Nessa ocasião eu soube respeitar a atitude da moça e acreditei em suas razões, e ainda creio que o fim do nosso namoro nada teve a ver com aquele negão com quem ela estava abraçada no shopping dois dias depois do ocaso de nosso relacionamento.
Bueno, após todo esse segundo de lembranças e nostalgias, voltaram-me os sentidos e a razão. Sendo assim, adentrei a sala e me atirei no divã. 40 minutos depois (que me custaram 35 reais pagos no cheque especial) e após toda aquela conversa, Dr. Penteado repassa com os olhos as anotações que fizera em seu bloquinho durante a consulta, e dá seu parecer final:
- Tchê, compra uma boneca inflável e sê feliz.
mamãe,
te fiz um poema cheio
de rimas ricas
aliterações pujantes
metáforas de tirar o fôlego
e com uma métrica exemplar
de dar inveja mesmo
mamãe,
deixei o dinheiro
do aluguel
em cima da mesa.

08 octubre, 2007

40 anos.

06 octubre, 2007

Vivo

havia a vida ávida por voar
e um sonho medonho
se deixando e me levando pra depois
havia, pois, essa minh'alma maleva
que me puxa e me leva pra lá
pra cá e pra nós dois.

05 octubre, 2007

Vozes da América

No cenário da canção popular latino-americana, dentre outros grandes nomes, se destacam dois vultos de grandeza ímpar: a argentina Mercedes Sosa e a brasileira Elis Regina. Seja pelo enorme talento, pelo carisma ou pelo claro posicionamento político, o fato é que estas duas mulheres conquistaram um grandíssimo reconhecimento ao longo de suas trajetórias e souberam tocar fundo nas emoções dessa geração que passou sua juventude entre ditaduras militares e outros furores dos anos 60, 70 e 80.

Nascida na província de Tucumán, noroeste da Argentina, Mercedes desde sempre elegeu o folclore gaucho argentino como principal referência, e ao longo de sua carreira, soube beber magistralmente de outras fontes da cultura musical do continente, do cubano Silvio Rodriguez ao cearense Fagner. Perseguida pela ditadura argentina, era proibida de cantar em seu país. Em 1979, durante uma apresentação na cidade de La Plata, a cantora e todo seu público foram presos. Após esse incidente Mercedes partiu para o exílio, fixando-se em Madri até o fim dos anos de chumbo no país vizinho.

Elis, por sua vez, iniciou sua carreira em Porto Alegre, sua cidade natal. Ainda muito jovem transferiu-se ao Rio de Janeiro, onde entrou em contato com os maiores nomes daquilo que é conhecido como Música Popular Brasileira. Aos poucos conquistou seu espaço no cenário musical da cidade, do país, e por que não, do mundo. Sua impecável afinação e sua emocionada performance no palco, além de seu comportamento impulsivo, conquistaram em definitivo seu grande público.

Diferentemente de Mercedes Sosa - que segue gravando e se apresentando ao fiel público - a cantora brasileira teve uma breve carreira, tragicamente interrompida por sua morte aos 36 anos.

Mas independente da longevidade de seus caminhos, ambas souberam ser eternas através da força revolucionária de suas gargantas. No âmbito da música popular latino-americana, as duas foram grandes porta-vozes das angústias e mazelas do continente, e certamente são uns dos maiores marcos de uma geração que peleando aprendió a cantar.

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